O Parque Lagamar em Cananéia, no Vale do Ribeira, foi palco de uma expedição científica que trouxe à tona uma descoberta surpreendente para a conservação da flora paulista. Pesquisadores encontraram duas espécies de plantas nativas anteriormente consideradas extintas e identificaram 18 outras espécies sob risco de desaparecimento. A iniciativa revela a importância das unidades de conservação na preservação da biodiversidade no estado de São Paulo.
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A pesquisa foi liderada pelo Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), órgão vinculado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) do Estado de São Paulo. Durante a expedição, realizada em uma área preservada do Parque Estadual Lagamar, em Cananéia, os cientistas se depararam com as plantas Myrcia loranthifolia e Peperomia diaphanoides, classificadas anteriormente como extintas no estado.
Localizado no litoral sul paulista, o Parque Lagamar se destaca por ser um refúgio natural que abriga uma rica diversidade de espécies da Mata Atlântica. A redescoberta dessas plantas reforça a importância estratégica do parque como uma área vital para a conservação e um local de refúgio para espécies ameaçadas.
A Myrcia loranthifolia é uma espécie arbustiva da família Myrtaceae, conhecida por englobar frutas como jabuticaba e pitanga. Com um porte maior, essa planta é encontrada em áreas de restinga, a vegetação típica próxima ao litoral. Já a Peperomia diaphanoides é uma erva epífita, que cresce sobre outras árvores e precisa ser coletada em altura. Para essa tarefa, foi necessário o apoio de um escalador de árvores, o que destacou a complexidade da pesquisa.
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Além dessas duas espécies redescobertas, os pesquisadores identificaram outras 18 plantas que constam nas listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção. Elas estão classificadas em diferentes níveis de risco, incluindo as categorias "perigo", "vulnerável" e "criticamente em perigo".
O Parque Lagamar em Cananéia tem uma área superior a 40 mil hectares, abrangendo parte dos municípios de Cananéia e Jacupiranga. Inserido no Mosaico de Unidades de Conservação de Jacupiranga, o parque faz parte de um território maior, com 243 mil hectares, que conecta áreas de preservação do litoral até a Serra de Paranapiacaba.
A localização estratégica e a diversidade de ecossistemas fazem do parque um santuário natural para várias espécies da Mata Atlântica. Com alta riqueza de flora e fauna endêmicas, a área se destaca pela relevância ecológica e pela necessidade urgente de proteção contra a pressão humana e ambiental que ameaça a biodiversidade local.
Durante a expedição, foram catalogadas 540 espécies de plantas vasculares. Essas plantas possuem um sistema especializado para o transporte de água, nutrientes e seiva, além de contar com raízes, caules e folhas, o que lhes permite maior complexidade e crescimento. A descoberta é um indicativo de que muitas outras espécies raras ou desconhecidas ainda podem ser encontradas no parque, reforçando a necessidade contínua de estudos.
O resultado da pesquisa foi publicado na revista científica Hoehnea, periódico do IPA. Segundo o pesquisador Claudio de Moura, um dos responsáveis pelo estudo, “esses achados demonstram como as unidades de conservação desempenham um papel crucial na proteção da biodiversidade. Ainda existem muitas lacunas no conhecimento sobre a flora local, e certamente há outras espécies esperando para ser redescobertas ou registradas pela primeira vez”.
O Parque Lagamar enfrenta o desafio de equilibrar a preservação da biodiversidade com a pressão do desenvolvimento humano na região. A Mata Atlântica é um dos biomas mais ameaçados do Brasil, e a descoberta de espécies consideradas extintas destaca a importância da preservação das áreas remanescentes.
Iniciativas de conservação e pesquisas científicas são fundamentais para garantir que as espécies ameaçadas possam ser protegidas e preservadas para as futuras gerações. A gestão eficiente e a fiscalização do parque também desempenham um papel essencial na proteção desses habitats sensíveis.
O Parque Lagamar em Cananéia mostrou, por meio dessa expedição científica, ser uma peça fundamental na proteção da flora paulista e da biodiversidade brasileira. A redescoberta de plantas que se acreditava extintas reforça a relevância de áreas de conservação e a necessidade contínua de pesquisa e monitoramento ambiental.
A expedição do IPA não apenas trouxe à tona o valor ecológico do parque, mas também destacou o quanto ainda há por descobrir sobre a flora local. As unidades de conservação são fundamentais para proteger as espécies que enfrentam a ameaça constante da extinção devido à ação humana e às mudanças climáticas. Preservar esses espaços é garantir a continuidade da vida e da diversidade que eles abrigam.
A Mata Atlântica, com sua alta taxa de endemismo, precisa de proteção eficaz para evitar que mais espécies desapareçam sem serem estudadas. O Parque Lagamar em Cananéia se consolida, assim, como um refúgio indispensável para a preservação e a descoberta científica, provando que a natureza ainda tem muito a revelar para aqueles que se dedicam a explorá-la e protegê-la.