Há 24 anos, nas águas do litoral de Cananéia, SP, nasceu uma boto-cinza muito especial. Com a barbatana dorsal torta para a esquerda, ela foi apelidada de “Tortinha” pelos pesquisadores do Projeto Boto-Cinza, do Instituto de Pesquisas Cananéia (IPeC). Desde então, sua característica única permite um fácil reconhecimento, tanto pelos cientistas quanto pelos moradores locais.
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“Tortinha era inicialmente considerada um macho, até que alguns anos depois, quando ela teve um filhote, os pesquisadores descobriram que, na verdade, era uma fêmea”, explica Caio Louzada, biólogo e coordenador do projeto.
Como os pesquisadores identificam os botos?
Os botos da região de Cananéia são identificados por uma técnica chamada fotoidentificação. Essa técnica utiliza imagens da barbatana dorsal dos animais para criar um banco de dados, semelhante a uma “impressão digital”, que permite o reconhecimento de cada boto ao longo dos anos. A má formação de Tortinha fez com que ela pudesse ser reconhecida desde muito jovem.
“Ela se destaca por ser facilmente observada e reconhecida, o que cria um vínculo entre a comunidade e o projeto. Tortinha se tornou um ícone local”, destaca Louzada.
Tortinha vira personagem de web série infantil
A boto-cinza Tortinha ganhou ainda mais destaque ao se tornar personagem principal de uma web série infantil chamada "As Aventuras de Tortinha". A série, disponível no canal do IPeC no YouTube, tem como objetivo educar e engajar as crianças sobre a importância da conservação da espécie, que está em risco de extinção.
“A série utiliza a personagem para explicar, de forma lúdica, os comportamentos dos botos e a importância dos estuários do Lagamar, envolvendo Cananéia e outras regiões do país”, afirma Louzada. Dois episódios já estão disponíveis, com novos lançamentos previstos até o final do ano.
A vida de Tortinha nas águas de Cananéia
Com cerca de dois metros e pesando aproximadamente 130 quilos, Tortinha é uma boto-cinza adulta que já teve vários filhotes. Ela é frequentemente vista nas praias de Cananéia, e sua má formação na barbatana dorsal não afeta sua rotina ou comportamento.
“A má formação não impede que ela faça nada. Ela tem um comportamento totalmente normal”, relata Louzada, que acompanha Tortinha desde 2009. Ele ainda explica que Tortinha pode ter mais uma ninhada, pois a reprodução dos botos-cinza costuma ocorrer até os 27 anos.
A importância do boto-cinza na conservação
O boto-cinza (Sotalia guianensis) é encontrado ao longo do litoral brasileiro, com exceção do Rio Grande do Sul. Apesar de sua população estar estável em Cananéia, com cerca de 400 indivíduos, a espécie é classificada como vulnerável.
"Por estar associado às regiões costeiras e de manguezais, áreas de grande impacto humano, o boto-cinza precisa de cuidados especiais para garantir sua preservação”, alerta Louzada.
Tortinha, além de ser um ícone local, tornou-se uma ferramenta poderosa na conscientização ambiental, trazendo à tona a necessidade de preservar não apenas uma espécie, mas todo um ecossistema.
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