Um jacuguaçu (Penelope obscura) com uma plumagem incomum chamou a atenção de um observador de aves em Jacupiranga, no Vale do Ribeira, no interior de São Paulo. A ave, que normalmente tem a cor preta com listras brancas no pescoço e no peito, e um papo vermelho, foi flagrada com o corpo bem mais branco e diferente.
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O responsável pelo registro foi o eletricista aposentado Duarte da Silva, que há cerca de um ano viu a ave pela primeira vez comendo os frutos de uma jacataúva perto de sua casa. Desde então, ele ficou com vontade de fotografar a espécie, que é grande - cerca de 70 centímetros - e barulhenta, e vive no Uruguai, Paraguai, Argentina, na Bolívia e no Sul e Sudeste brasileiro.
Duarte, que é apaixonado pela observação de aves e guia outros observadores pela chácara que comprou durante a pandemia, aproveitou a época de frutificação da jacataúva, no final de janeiro deste ano, para ir todos os dias até a árvore em busca da ave.
No dia 6 de fevereiro, ele teve a sorte de encontrar o jacuguaçu na árvore, por volta das 6h30 da manhã. “A adrenalina foi lá em cima, porque se ele escapasse era capaz que eu não conseguiria ver novo. Peguei a máquina e comecei a registrar em cima da moto mesmo”, conta.
O encontro raro durou pouco menos de seis minutos e rendeu alguns cliques e até um vídeo. De acordo com Duarte, pelo canto e dominância, parecia ser um macho. “Logo desceu para o mato e eu não vi mais, mas não tem como apagar da memória o momento que agora também tenho registrado nas fotos”, diz.
Segundo o ornitólogo Luciano Lima, a plumagem com manchas brancas desse jacuguaçu é resultado de ausência de deposição do pigmento melanina nas penas. Ele explica que provavelmente se trata de um caso de despigmentação progressiva, um processo que faz com que a ave nasça com plumagem normal e tenha um aumento nas penas brancas a cada muda de penas.
Esse fenômeno é diferente do leucismo, uma mutação genética que faz com que a ave nasça com plumagem parcialmente ou completamente branca por causa um defeito na produção de melanina. “O padrão de penas brancas nesse jacuguaçu está bem espalhado pelo corpo e não aparenta ser simétrico, portanto é mais provável que se trate de um caso de despigmentação progressiva, que é muito mais comum em aves selvagens do que o leucismo”, finaliza.
A mudança de coloração nas aves pode trazer consequências negativas, como uma maior exposição à predadores, mas nesse caso, acredita-se que o jacuguaçu viva normalmente, já que foi visto por dois anos consecutivos pelo observador.