A Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos e ameaçados do mundo, pode ter uma nova chance de sobrevivência graças a uma palmeira nativa: a juçara. O fruto dessa planta, que tem um sabor e uma cor semelhantes ao do açaí, está se tornando uma fonte de renda e de preservação ambiental para os moradores do Vale do Ribeira, no interior de São Paulo.
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A juçara já foi muito conhecida pelo seu palmito, que era extraído de forma predatória, levando a palmeira à beira da extinção. Durante a ditadura militar, o governo incentivou a instalação de indústrias para explorar o palmito, e muitos caiçaras — povo tradicional do litoral — se tornaram palmiteiros. Com a evolução da legislação ambiental, a partir dos anos 1980, essa atividade passou a ser considerada ilegal e perseguida.
A extração do palmito não só mata a planta, como também afeta toda a cadeia alimentar da floresta, já que a juçara é uma importante fonte de alimento para os animais. Por isso, os defensores da Mata Atlântica passaram a priorizar a sua conservação.
Uma alternativa que vem ganhando força é o aproveitamento do fruto da juçara, que pode ser usado na produção de sorvetes, sucos, geleias e outros produtos. O fruto tem alto valor nutricional, sendo rico em antioxidantes, ferro, cálcio e fibras. Além disso, tem um sabor agradável e uma cor roxa que atrai os consumidores.
O fruto da juçara pode substituir o açaí, que é uma palmeira da Amazônia, na forma de consumo mais popular no Sul e Sudeste do Brasil: o sorbet, um creme doce e gelado. Essa forma de consumo tem a vantagem de ser mais próxima do mercado consumidor, reduzindo os custos de transporte e armazenamento.
A juçara não compete com o açaí, mas sim complementa a sua oferta, já que há uma grande demanda pelo fruto, tanto no mercado nacional quanto no internacional. Segundo a pesquisadora Virgínia da Matta, da Embrapa, os dois frutos se apoiam, pois há espaço para a expansão da produção de ambos.
Um exemplo de sucesso é a Juçaí, uma empresa que produz o sorbet de juçara, em parceria com a Embrapa. A empresa compra o fruto de produtores familiares do Vale do Ribeira, que cultivam a juçara de forma sustentável, respeitando o ciclo natural da planta. A empresa também oferece capacitação e assistência técnica aos produtores, além de incentivar a agroecologia e a preservação da Mata Atlântica.
Um dos produtores é Gilberto Ota, um ativista em defesa da juçara. Ele mora no bairro Guapiruvu, em Sete Barras, onde tem uma plantação de juçara e produz o seu próprio suco. Ele se considera um palmiteiro, mas não no sentido pejorativo. “Ao reivindicar a profissão de palmiteiro, estamos dizendo que as gerações anteriores das famílias que hoje vivem da juçara não eram de criminosos”, diz ele. “Eram pessoas que trabalhavam com o cultivo da palmeira de uma forma diferente da que fazemos hoje.”